Índios isolados são fotografados

Tribo é registrada na fronteira com o Peru e está ameaçada por madeireiros


Século XXI, Amazônia, Brasil. Até parece que a letra de Um Índio, de Caetano Veloso (E aquilo que nesse momento se revelará aos povos/ Surpreenderá a todos, não por ser exótico/ Mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto/ Quando terá sido o óbvio), foi escrita para legendar as fotos feitas pela Funai (Fundação Nacional do Índio), que posteriormente autorizou a Survival International (http://www.uncontactedtribes.org/fotosbrasil) utilizá-las como parte de sua campanha para proteger o território dos índios isolados.

Segundo a Survival, a tribo fotografada é a mesma que foi registrada pela primeira vez em 2008. Desta vez, as fotos foram mais aproximadas e mostram os índios – que vivem no Brasil, perto da fronteira com o Peru – em detalhes. Elas revelam uma comunidade próspera e saudável com cestos cheios de mandioca e mamão fresco cultivados em suas roças.
Mas apesar da aparente tranquilidade, a sobrevivência deles está em sério perigo. A razão: madeireiros ilegais estão invadindo o território da tribo no lado peruano da fronteira. Autoridades brasileiras acreditam que é provável que os dois grupos entrarão em conflito. Stephen Corry, diretor da Survival, foi mais longe: “Os madeireiros ilegais irão destruir essa tribo. É vital que o governo peruano os pare antes que seja tarde demais”.
Para a organização indígena da amazonia peruana Aidesep, o discurso é um só: “Nós estamos profundamente preocupados com a falta de ação das autoridades, apesar das reclamações do Peru e de fora contra o desmatamento ilegal, nada foi feito’.

Por essas e por outras, a Survival e outras ONGs estão fazendo uma campanha há anos para que o governo peruano aja de forma decisiva para impedir a invasão, mas pouco tem sido feito. No ano passado, uma organização dos EUA, Upper Amazon Conservancy, realizou o último de vários sobrevôos do lado do Peru, revelando mais evidências de extração ilegal de madeira em uma área protegida.
Para Marcos Apurinã, coordenador da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), salientou que “é necessário reafirmar que esses povos existem e para isso apoiamos a divulgação de imagens que comprovam estes fatos”. E foi mais longe: “Esses povos têm tido seus direitos mais elementares, sobretudo à vida, ignorados... Portanto devemos protegê-los’.
Outra liderança indígena importante, Davi Kopenawa Yanomami, também engrossou o mesmo discurso. “Tem que cuidar e proteger o lugar onde os índios moram, pescam, caçam e plantam. Por isso é útil mostrar as imagens dos isolados, para o mundo inteiro saber que eles estão lá na floresta deles e que as autoridades devem respeitar o direito deles de morar lá”.
José Carlos dos Reis Meirelles, sertanista da Funai no Acre, admite também uma dificuldade. “É difícil convencer até o próprio Estado que eles existem. A partir disso, você demarcar um território maior para eles já é uma dificuldade – é um desafio porque você vai mexer com um monte de interesses. E o segundo desafio é manter realmente essa terra isenta de interferência externa’.

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